A teoria de Jacques Lacan sobre o desejo humano oferece uma compreensão complexa e profunda do tema. Ao longo de sua obra, Lacan propõe uma articulação entre a angústia e o desejo do Outro, explorando os diferentes registros – imaginário, simbólico e real – nos quais o desejo se manifesta.

No registro imaginário, o desejo do Outro é entendido como uma necessidade de identificação. O sujeito busca se espelhar na imagem do Outro para encontrar uma orientação para sua conduta. Já no registro simbólico, o desejo do Outro é compreendido como a função do significante, que dá significado e orientação para a ação, pensamento e sentimento do sujeito.

Na dimensão real, a angústia surge como um sinal do desejo de um Outro real, que se apresenta como paradoxal e inconsistente. A falta de autonomia do sujeito é revelada pela angústia, que surge quando o sujeito é impedido de responder diante de um Outro cujo querer é enigmático para ele.

A compreensão do desejo humano na abordagem de Lacan, fundamentada na psicanalise, nos ajuda a compreender a natureza complexa e paradoxal desse fenômeno tão presente em nossa vida.

Principais pontos a serem destacados:

• O desejo do homem é o desejo do Outro
• O desejo se manifesta nos registros imaginário, simbólico e real
• A angústia revela a falta de autonomia do sujeito diante do Outro
• O desejo do Outro é o que dá sentido e orientação à ação, pensamento e sentimento do sujeito
• A compreensão do desejo na abordagem de Lacan ajuda a entender a natureza complexa e paradoxal do desejo humano

O desejo do homem é o desejo do Outro

Lacan nos oferece uma perspectiva interessante sobre a natureza do desejo humano, na qual destaca que o desejo do homem é o desejo do Outro. Isso significa que o sujeito busca o objeto não pelo seu valor intrínseco, mas porque é aquilo que o Outro deseja. Essa concepção de desejo nos leva a questionar a autonomia do sujeito e a importância da relação com o mundo exterior para a constituição do desejo.

No registro imaginário, a identificação com o desejo do Outro leva a um impasse em que o sujeito acaba desejando o que os outros desejam. Essa dinâmica gera conflitos e agressividade, pois cada indivíduo busca satisfazer seu próprio desejo, mas acaba se deparando com a dificuldade de conciliá-lo com os desejos alheios. A identificação com a imagem de um outro que aparenta ter a unidade e a consistência que o sujeito falta cria uma ilusão de completude, mas ao mesmo tempo gera uma sensação de vazio e insatisfação.

Podemos ilustrar essa ideia com um exemplo prático, apresentando uma tabela que mostra as diferentes formas de desejo e as consequências dessas interações:

Portanto, compreender o desejo humano na abordagem de Lacan nos permite refletir sobre a complexidade do nosso próprio desejo e sua relação íntima com o desejo do Outro. Essa compreensão nos ajuda a questionar a ideia de autonomia e a buscar um equilíbrio entre nossos desejos individuais e as influências do mundo ao nosso redor.

Texto inspirado nas ideias de Jacques Lacan sobre o desejo humano e sua relação com o desejo do Outro. Fonte: Teorias de Lacan sobre o desejo e a psicanalise.

O desejo do Outro na dimensão simbólica

Na abordagem de Lacan, o desejo do Outro adquire uma dimensão simbólica fundamental. Ele é entendido como a função do significante, ou seja, o sujeito busca o objeto não pela sua própria satisfação, mas porque o desejo do Outro é o que lhe dá significado e orientação. O Outro se torna o ponto de apoio para a ação, pensamento e sentimento do sujeito. No entanto, o desejo do Outro se apresenta como um enigma, levando o sujeito a questionar sua própria identidade e autonomia.

Essa concepção de desejo na abordagem de Lacan ressalta a dependência do sujeito em relação ao Outro. O sujeito busca se identificar com um Outro que aparenta ter a unidade e a consistência que lhe falta. No entanto, essa identificação não é completa e leva a um impasse. O sujeito acaba desejando o que os outros desejam, gerando conflitos e agressividade.

O desejo do Outro na dimensão simbólica

Segundo Lacan, o desejo do Outro na dimensão simbólica é o que dá sentido e direção à vida do sujeito. Através da linguagem e dos significantes, o sujeito busca preencher o vazio existencial e encontrar sua identidade. No entanto, esse desejo do Outro é paradoxal e enigmático. Ele não pode ser plenamente satisfeito pelo sujeito, pois está sujeito à falta e à falta de sentido.

Em resumo, a concepção de desejo na obra de Lacan nos permite compreender a complexidade e a contradição do desejo humano. O desejo do Outro, tanto na dimensão imaginária quanto na dimensão simbólica, desempenha um papel central na constituição do sujeito. O sujeito busca preencher a falta e se identificar com um Outro que lhe forneça um sentido e uma direção. No entanto, essa busca é marcada por paradoxos, conflitos e uma constante sensação de incompletude.

O desejo do Outro na dimensão imaginária

No registro imaginário, o desejo do Outro é compreendido como uma necessidade de identificação. O sujeito busca se espelhar na imagem do Outro para encontrar uma orientação para sua conduta. Lacan destaca que essa identificação é essencial para a formação do Eu, que é essencialmente imaginário. A imagem do corpo desempenha um papel central nesse processo, sendo construída e organizada por meio dos registros real, simbólico e imaginário.

A imagem do corpo é vivida inicialmente como um corpo espedaçado, fragmentado. O sujeito busca, então, encontrar uma unidade e coerência para sua identidade ao se identificar com a imagem do Outro, que aparenta ter a unidade e a consistência que lhe falta. No entanto, essa identificação leva a um impasse, pois o sujeito acaba desejando o que os outros desejam. Essa dinâmica pode gerar conflitos e agressividade, uma vez que o sujeito se vê preso nessa busca pela aprovação do Outro.

No registro imaginário, a semelhança é uma característica importante. Os objetos são comparáveis e distribuíveis em uma mesma série. Isso significa que o sujeito busca se igualar aos outros, desejando o que os outros desejam, na tentativa de encontrar uma identidade estável e coerente. No entanto, essa busca pela semelhança acaba levando o sujeito a um impasse, pois ele perde a sua própria singularidade e se torna prisioneiro das expectativas e demandas dos outros.

A imagem do corpo em Lacan

Lacan aborda a imagem do corpo a partir do conceito de estádio do espelho, no qual a criança se identifica com sua imagem refletida no espelho. Essa identificação é essencial para a formação do Eu, que é essencialmente imaginário. A imagem do corpo é construída e organizada por meio dos registros real, simbólico e imaginário. O corpo é vivido inicialmente como um corpo espedaçado, e a construção da imagem corporal é fundamental para o desenvolvimento do sujeito.

No registro imaginário, a imagem do corpo representa uma tentativa de unificação e completude. A criança busca se reconhecer na imagem do espelho como um corpo inteiro e coerente. Essa identificação é um momento crucial para a construção da identidade, pois o sujeito se percebe como um ser separado do Outro e começa a desenvolver sua autonomia.

Na abordagem de Lacan, a imagem do corpo está intimamente ligada ao desejo. A criança busca se identificar com a imagem do Outro como um ideal a ser alcançado. Essa identificação com o desejo do Outro leva à formação de uma imagem idealizada do próprio corpo, na qual o sujeito se esforça para corresponder às expectativas e desejos do Outro.

A compreensão da imagem do corpo em Lacan nos ajuda a entender a complexidade e a influência do desejo na formação do sujeito. A imagem do corpo é construída e moldada por meio das relações com o Outro, e o desejo do Outro desempenha um papel fundamental nesse processo. Ao refletir sobre a imagem do corpo, podemos compreender melhor como o desejo se manifesta e como ele influencia a construção da identidade e a busca pela satisfação.

Principais pontos sobre a imagem do corpo em Lacan:

• A imagem do corpo é construída a partir do conceito de estádio do espelho;
• A identificação com a imagem do espelho é fundamental para a formação do Eu;
• No registro imaginário, a imagem do corpo busca unificação e completude;
• A imagem do corpo está intimamente ligada ao desejo e à busca pela identificação com o Outro;
• A compreensão da imagem do corpo em Lacan ajuda a entender a influência do desejo na formação do sujeito.

A imagem do corpo em Lacan é um conceito central para a compreensão da psicologia do desejo. Por meio da identificação com a imagem do Outro, o sujeito busca se constituir como um indivíduo único e autônomo. A construção da imagem corporal é um processo complexo, influenciado pelo desejo do Outro e pela busca pela identificação idealizada. Ao refletir sobre a imagem do corpo, podemos ampliar nosso entendimento sobre a natureza do desejo e sua relação com a formação da identidade.

Conclusão

A abordagem de Lacan sobre a concepção do desejo humano nos revela uma compreensão complexa e paradoxal dessa experiência intrínseca ao nosso ser. O desejo do homem é intrinsecamente ligado ao desejo do Outro, e essa relação se manifesta em diferentes registros – imaginário, simbólico e real.

Lacan nos mostra que a angústia é um sinal de que estamos diante de um Outro real cujo querer é enigmático para nós, revelando nossa falta de autonomia. Por meio da identificação com a imagem de um Outro que aparenta ter a unidade e a consistência que nos falta, buscamos o objeto não pelo seu valor positivo, mas porque é aquilo que o Outro deseja.

No registro simbólico, o desejo do Outro se apresenta como a função do significante, dando sentido e orientação à nossa ação, pensamento e sentimento. No entanto, o desejo do Outro permanece como um enigma, levando-nos a questionar nossa própria identidade e autonomia.

Ao compreendermos a concepção de desejo na obra de Lacan, somos convidados a refletir sobre a natureza complexa do desejo humano, sua relação com o Outro e a importância da construção da imagem corporal para o desenvolvimento do sujeito. A teoria lacaniana nos permite uma compreensão mais profunda de nossa experiência do desejo, revelando suas dimensões imaginária, simbólica e real.

Links de Fontes

• http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952010000100004
• http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482006000100004
• https://www.scielo.br/j/pe/a/qxm6x3kxz5f7JnPrzh5X4pz/?format=pdf&lang=pt