Quando Marcos, um homem de meia-idade, entra na sala de consulta, ele carrega mais do que o peso de uma queixa física. A disfunção erétil, seu motivo explícito para a consulta, é apenas a ponta do iceberg. Ao ouvi-lo, o terapeuta percebe camadas subjacentes de estresse e ansiedade.
O que Marcos inicialmente vê como um problema “mecânico” revela-se intrinsecamente atado à questão da busca por sentido, um tema explorado pelo psiquiatra Viktor Frankl em seu livro “O Homem em Busca de Sentido”.
Frankl argumenta que o sofrimento humano, seja ele físico ou psicológico, muitas vezes está ligado à ausência de um sentido de vida. Longe de ser uma questão meramente existencial, essa ausência tem ramificações concretas para a saúde e o bem-estar de um indivíduo.
A logoterapia, a abordagem terapêutica de Frankl, sugere que encontrar um significado nas experiências de vida é crucial para superar o estresse e a ansiedade.
Para Marcos, essa perspectiva oferece uma alternativa transformadora. A busca por sentido faz com que ele questione os fatores estressantes em sua vida, que não apenas contribuem para sua condição atual, mas também dificultam sua capacidade de encontrar satisfação e alegria em outros aspectos.
O trabalho exaustivo, as demandas familiares e a pressão social para ser sempre ‘competente’ criaram um terreno fértil para a ansiedade se manifestar fisicamente.
Frankl acredita que a busca por significado não é apenas uma reação ao sofrimento, mas um antídoto contra ele. Ele escreve: “Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”.
Esse insight leva Marcos a uma viagem de autorreflexão, onde ele começa a realinhar suas prioridades e valores, colocando maior ênfase no que realmente importa para ele.
A disfunção erétil, então, não é apenas um sintoma isolado, mas um convite para um exame mais profundo das áreas de sua vida que estão faltando em significado.
O terapeuta ajuda Marcos a identificar essas áreas e, mais importante, a tomar medidas práticas para injetar sentido nelas. Isso pode envolver desde pequenas mudanças, como dedicar mais tempo à família e aos hobbies, até decisões de vida maiores, como mudar de carreira ou adotar um estilo de vida mais saudável.
Esse redirecionamento não é fácil, mas é necessário. Como Frankl ressalta, o vazio existencial – o sentimento de desespero e falta de sentido – pode ser preenchido ao assumirmos responsabilidade pelas nossas próprias vidas e ao encontrarmos propósito em meio ao caos.
A busca por sentido, então, não é um luxo filosófico, mas uma necessidade psicológica.
Ao integrar a busca por sentido em sua vida, Marcos percebe que a ansiedade e o estresse começam a diminuir, tendo um impacto direto em sua condição física.
A disfunção erétil não desaparece da noite para o dia, mas agora ele tem uma estratégia mais profunda para abordar não apenas os sintomas, mas as causas subjacentes que permeiam seu ser.
A abordagem de Frankl também oferece a Marcos uma estrutura mais rica para a terapia, permitindo-lhe explorar a intersecção de questões emocionais, psicológicas e existenciais.
É um convite para uma integração mais completa do ser humano, onde o físico, o mental e o espiritual estão interligados.
Dentro dessa perspectiva, a disfunção erétil se torna mais do que um problema a ser “consertado”. Torna-se um ponto de partida para uma jornada mais ampla de autodescoberta e autorrealização.
Afinal, cada desafio, cada obstáculo, é também uma oportunidade para crescer, mudar e, finalmente, encontrar um sentido mais profundo na experiência humana.
O resultado é uma espécie de terapia existencial que vai além da simples eliminação de sintomas. Marcos aprende a articular seus próprios valores, a se engajar em atividades significativas e a construir relações mais autênticas.
Ao fazer isso, ele não só melhora sua qualidade de vida mas também cria um espaço dentro de si onde a ansiedade e o estresse têm menos probabilidade de se enraizar.
E assim, na busca por tratar uma disfunção erétil aparentemente mundana,
Marcos se depara com questões que são tudo menos triviais. São questões que vão ao cerne do que significa ser humano, questões que, quando abordadas, têm o poder de transformar não apenas a mente, mas a totalidade do ser.
É um lembrete poderoso de que, mesmo nos momentos de fragilidade e falha, podemos encontrar oportunidades para um significado mais profundo e uma vida mais plena.
CONCLUSÃO
Floripa, 2023