Sentado na sala de espera do consultório médico, Carlos ajusta repetidamente sua gravata, um gesto inconsciente que revela mais sobre seu estado interno do que ele gostaria de admitir.
Ele está ali para discutir um problema delicado, mas profundamente humano: a disfunção erétil. Por mais que o tema seja tabu, Carlos sabe que o silêncio do seu corpo é uma linguagem que precisa ser decifrada.
No livro “O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal”, Pierre Weil e Roland Tompakow enfatizam como o corpo expressa emoções e sentimentos frequentemente reprimidos ou mal compreendidos.
Nesse contexto, a disfunção erétil de Carlos pode ser vista não apenas como um fracasso mecânico, mas como um grito silencioso emanando de camadas mais profundas de estresse e ansiedade.
Weil e Tompakow adicionam uma dimensão somática à compreensão da ansiedade e do estresse, algo frequentemente subestimado em abordagens mais tradicionais, como a psicanaliseou a psicologia cognitiva.
O corpo, argumentam eles, não mente. Seus sinais são manifestações de desequilíbrios emocionais e psicológicos que, quando interpretados corretamente, fornecem pistas valiosas para a resolução de problemas intrínsecos.
A gravata apertada de Carlos, a respiração acelerada, o olhar que evita o contato direto, são todos indícios de uma ansiedade que vai além do órgão sexual e penetra em diversas áreas da sua vida.
Esses sinais físicos não são triviais; eles são a linguagem não-verbal através da qual o corpo expressa seu mal-estar.
A proposta de Weil e Tompakow é que, prestando atenção a esses sinais, podemos entender as causas subjacentes da disfunção erétil e de outras condições.
Para Carlos, essa perspectiva somática oferece uma janela para uma autorreflexão mais profunda, que inclui não só o tratamento médico tradicional mas também o exame dos fatores de estresse e ansiedade que têm contribuído para a sua condição.
Weil e Tompakow apontam que uma das formas mais eficazes de se “ouvir” o corpo é através de práticas de atenção plena, que cultivam uma presença consciente aos sinais físicos e emocionais que emergem.
Carlos, portanto, inicia uma prática de meditação e atenção plena, aprendendo a focar sua atenção em diferentes partes do corpo, a sentir mais profundamente suas sensações e a reconhecer os sinais de estresse e ansiedade antes que eles se tornem avassaladores.
O autorreflexo desencadeado por essa prática se torna um catalisador para a ação.
Carlos começa a reconhecer os ambientes e situações que disparam sua ansiedade e estresse, e toma medidas proativas para mitigar essas condições. Ele se permite momentos de pausa durante o dia para respirar profundamente, realinhar seus pensamentos e recalibrar suas emoções.
Assim, para Carlos, a disfunção erétil se torna uma jornada de autoconhecimento, onde o corpo é um barômetro que indica quando algo está errado em sua vida emocional ou psicológica.
Ao reconhecer esses sinais e agir com base neles, ele não apenas aborda os sintomas, mas vai mais fundo na resolução das causas subjacentes.
A abordagem somática também se integra bem com outras formas de terapia.
Carlos, por exemplo, começa a integrar sua prática de atenção plena com a psicoterapia, criando um ciclo virtuoso de autoconsciência e autotransformação.
No consultório médico, a conversa com o profissional de saúde se torna mais significativa e abrangente.
Carlos se sente mais capacitado para discutir abertamente seu problema, armado com o autoconhecimento adquirido ao ouvir o que seu corpo tem a dizer.
Então, à medida que Carlos se afasta das abordagens reducionistas que veem a disfunção erétil apenas como um problema “mecânico”, ele começa a abraçar uma perspectiva mais holística.
Acreditando no postulado de Weil e Tompakow de que “o corpo fala”, Carlos começa a ouvir, aprender e, mais importante, agir. Com o tempo, ele nota uma melhoria significativa, não apenas em sua vida sexual, mas em sua qualidade de vida como um todo.
A disfunção erétil, neste sentido, pode ser vista não como um destino final, mas como um convite à introspecção e ao crescimento pessoal.
É um problema que, embora doloroso, carrega em si a semente de sua própria solução. E é no diálogo entre o corpo e a mente, entre os sintomas e suas causas mais profundas, que encontramos a chave para uma vida mais saudável e equilibrada.
CONCLUSÃO
Floripa, 2023