Somos parceiros – quem cuida… merece “ter/ser cuidado”. É preciso cuidar… cuidar-se… e deixar-se cuidar.
João Barros
” Eu sou responsável pelas minhas palavras e minhas ações – nelas meus pensamentos habitam… em minhas palavras, eu sou quem sou” (João Barros ).
Nestes últimos tempos, as terapias holísticas, têm se apresentado em um cenário de complexidade (Torre de Babel)… muitas vezes, alimentando o “friendly fire” – “o fogo amigo” entre os profissionais, no mercado.
Somos parceiros, “visíveis e invisíveis”, de uma jornada única e desafiadora – temos consciência de nossa existência – e somos convidados a refletir e repensar a trajetória, de nossa vocação à vida, no modo sobrevivência, no modo trabalho – em nosso pequeno espaço (cidade, estado, país e mundo).
Habitamos o universo e nos damos conta da importância de cuidar, de modo especial, de nós mesmos, do planeta e dos semelhantes.
A qualidade das relações – conosco mesmo, com os outros, com a natureza e com o mundo global – é sempre uma aposta, posta à prova nesse cenário. E nos perguntamos: quem somos – enquanto seres humanos, para onde caminhamos?
Apesar das adversidades, mantenhamos o olhar otimista frente à realidade, cenário desafiador, pois é esse paradoxo entre o bem e o mal que nos permite existir, ressignificar e renascer. A partir de nossas crenças e valores, carregamos … trilhamos… caminhos conhecidos e descobrimos novos caminhos. O certo e o errado são “dados lançados”, em direção ao bem e ao mal – “travessia de rubicão”.
Por que desde os tempos de antanho, estamos a decifrar a máxima de Ortega Y Gasset, procurando compreender e aprofundar o sentido da vida que habita cada ser humano: “o homem é o homem e a sua circunstância” ?
Em primeiro lugar, porque acreditamos firmemente que carregamos em nosso DNA a memória e a herança de nossos ancestrais.
Somos resultados de todos aqueles que nos antecederam, e com essa herança evoluímos, nos afastamos do instinto e nos aproximamos da essência da vida, tornando-nos artífices da cultura, sujeitos de nossa história.
Cada vez mais, descobrimos e aprendemos a valorizar o que é de todos e a experimentar a interdependência que sinaliza nossa efemeridade/transitoriedade e fragilidade. Por outro lado, é justamente da nossa limitação que brota nossa força, capacidade de superação. Força para fazermo-nos humanos, cada dia.
Contudo, reconhecemos que o exercício de “falar sobre a vida“, o exercício de “cuidar da vida” – exige uma generosidade maior: a de sentir e construir a própria vida em todas as suas contradições, acertos e erros, encarando-a como uma verdadeira luta pela sobrevivência. É assim que a humanidade continua sua caminhada.
Hoje, em especial, dar sentido à vida, tanto individual como coletivamente, não é tarefa fácil. Vivemos uma época de fragmentação generalizada, com uma pluralidade de ofertas e uma diversidade de opções e caminhos.
Uma coisa é certa – dar sentido à vida, à própria vida é passar no “vestibular” do cuidado ao outro, do cuidado ao semelhante. As terapias holísticas podem ser um ponte onde o cuidado vai e vem.
Diante desse cenário otimizante, podemos refletir o respeito dos profissionais terapeutas pelas diversas terapias holísticas, integrativas e complementares.
Em segundo lugar, porque o “individualismo exacerbado” parece estar crescendo, onde cada um parece buscar apenas por si, sem se importar com o próximo.
Nesse contexto desafiador, é essencial buscar sentido e significado em meio à adversidade. As terapias holísticas nos colocam à prova, enquanto profissionais, expondo nossas fragilidades, limites e forças – nos convocando a encontrar soluções que transcendam o egoísmo e a busca excludente – para pensar no bem-estar, de modo inclusivo e sustentável, onde é possível avançar na qualidade e vida, para todos.
Isso é, garantir o bem-estar, de modo sustentável, a todos – de modo preferencial, de braços esticados e entrelaçados de todos os profissionais que têm a missão de cuidar, de trabalhar a pedagogia do “autocuidado” – em benefícios de todos – dos enfermos e daqueles que prezam pela qualidade de vida
Assim, nos colocamos diante do desafio de conhecer, receber e organizar os profissionais do bem que buscam conexões com outras organizações que caminham na mesma direção – em busca de oportunidades humanizantes, de modo consciente e solidário. Existe uma ética, porque não, uma bioética que nos sustenta, motiva e nos atrai, de modo sinérgico.
Acreditamos que resgatar o sentido na vida, para todos, por meio da pedagogia do “autocuidado”, mesmo em tempos difíceis, requer conscientização – é preciso olhar para a nossa humanidade em sua carência transitória e aprender a compartilhar e a se comprometer com o cuidado de cada um – com todos – isto é – partilhar o mesmo propósito.
Somente assim, honrando a herança ancestral e buscando uma evolução significativa, poderemos construir um futuro mais promissor – para todos, onde o que é de todos possa ser partilhado, sem exclusão.
Em terceiro lugar, porque refletir sobre a colaboração dos terapeutas holísticos sempre agrega novos valores ao “politicamente saudável”.
Este texto busca refletir sobre a colaboração dos terapeutas holísticos na construção da singularidade do ser humano, especialmente através do diálogo, frente à diversidade que nos desafia.
Sentimos que é essencial resgatar/alimentar as relações saudáveis, o “bom-humor” e o bem-estar, que muitas vezes se perdem diante do sofrimento, trabalhados nas terapias holísticas e também, é essencial, transformar a realidade sociocultural, que muitas vezes, coisifica a existência, manipula nossa forma de viver e alimenta uma onda de exclusão.
Compromissos verdadeiros de cuidado, brotam da verdadeira espiritualidade e podem fazer toda a diferença nesse processo.
E o bem e mal
Uma das questões centrais que este texto aborda é a fragilidade dos seres humanos em dividir a humanidade em categorias de bem e mal.
Quem é considerado do bem? E quem é do mal? No entanto, acreditamos que essa atitude irrefletida de julgamento revela o apequenamento e a mesquinhez daqueles que se consideram superiores. Não vemos valores nesse caminho de categorizar as pessoas dessa forma.
Julgar quem é do bem e quem é do mal é algo complexo e incerto. Pessoas que são vistas como boas também podem cometer ações ruins, e vice-versa.
Esse dilema é um chamado para repensarmos o papel das terapias holísticas em nossa busca pelo sentido da vida, em situações delicadas de sofrimento e dor.
E a divisão da sociedade entre pobres e ricos?
Nossa sociedade está marcada por essa divisão, com pessoas que possuem muitos bens materiais e recursos financeiros abundantes, enquanto outros têm quase nada, vivendo em situações de empobrecimento, marginalização e exclusão.
Devemos olhar além das posses materiais para compreender a essência do ser humano. O verdadeiro valor não está no que se possui, mas sim na essência de cada indivíduo.
É fundamental repensar a distribuição dos bens e recursos, buscando uma economia mais solidária, equitativa e sustentável.
É através dessa reflexão e do empenho em construir uma sociedade mais justa que poderemos encontrar um sentido social para as terapias holísticas, tanto individual como coletivamente.
E os terapeutas holísticos
Os terapeutas holísticos em diálogo com outras abordagens, podem ser instrumentos importantes nessa jornada, ajudando-nos a compreender as complexidades humanas, a encontrar caminhos de transformação e cuidado mútuo.
Continuando a reflexão sobre os cuidados necessários, contemplados pelas terapias holísticas, vamos abordar a questão das crenças religiosas e espirituais, que são tão diversas e influenciam a forma como as pessoas se organizam e encontram sentido em suas vidas para sofrimento, dor e bem-estar.
Diversidade…
Quanto à multiplicidade de crenças…
Há uma multiplicidade de crenças, espiritualidade e religiões e cada grupo possui sua visão de mundo e busca pela felicidade ou pelo sentido da vida.
Nessa diversidade de caminhos, podem ocorrer encontros e desencontros, e é essencial repensar o papel das crenças e valores na busca do sentido existencial.
Devemos respeitar e acolher as diferentes formas de compreender o mundo e buscar significado, promovendo o diálogo e a compreensão entre diferentes perspectivas filosóficas, religiosas e espirituais.
Quanto à esfera política…
Quanto à esfera política, onde diferentes pessoas e grupos possuem ideologias e partidos, todos buscam o bem-estar, tanto individual como coletivamente.
No entanto, surge o desafio quando o fundamentalismo político entra em cena, restringindo o pensamento divergente e excluindo aqueles que não pensam na mesma direção.
É crucial repensar o papel da política na busca pelo sentido, promovendo uma cultura democrática que dialogue com o pensamento diverso e respeite a liberdade de expressão.
Quanto ao cenário atual…
Quanto ao cenário atual, os terapeutas podem colaborar ao estabelecer um diálogo com a realidade, de modo sustentável, que valorize relações saudáveis na busca pelo sentido da vida, bem-estar e qualidade de vida para todos.
Os terapeutas podem auxiliar na compreensão dos processos individuais e coletivos, ajudando as pessoas a lidarem com suas angústias, ansiedades e incertezas.
Além disso, podem contribuir para a construção de uma sociedade mais empática e solidária, promovendo a escuta ativa, a compreensão mútua e o respeito às diferenças.
Quanto à integração às terapias holísticas…
Ao buscar integrar as terapias holísticas com a realidade, torna-se possível criar um espaço para a construção de significados mais profundos e autênticos, onde as diversas dimensões da existência humana são levadas em conta.
Assim, a busca pelo sentido da vida e o bem-estar podem ser encarados de forma mais holística e inclusiva, valorizando a diversidade e promovendo um ambiente propício para o florescimento do indivíduo e da sociedade como um todo.
Quanto à visão lacaniana…
Soma-se ainda a particularidade da visão lacaniana, onde o eu está em constante diálogo com o Outro, que habita o inconsciente. O mundo externo se mistura com nossa singularidade, criando uma rica complexidade em nossa experiência de vida.
No entanto, nas últimas décadas, percebemos uma efervescência da realidade que tem levado muitas pessoas a se distanciarem de sua própria identidade.
Esse afastamento da identidade traz consigo uma sensação de falta de destino, de rumo e de felicidade, dificultando a esperança no futuro.
Diante desse cenário, enxergamos a perspectiva positiva do diálogo das terapias na construção de um mundo diferente e promissor.
Agregar sentido à identidade, através da experiência singular, pode ser um caminho sinérgico e colaborativo, que envolve a ética, economia, religião e política.
Ao compreendermos que o desejo – ” “é aquilo que nos falta” – e, ao mesmo tempo, “e´ aquilo que nos impulsiona” – então, vamos aprofundar a “ética do desejo”, será uma forma de resgatar a identidade perdida e redescobrir essência vital.
Conclusão…
Apesar de existirem críticas às terapias holísticas na atualidade, acreditamos que pensar a realidade a partir da nucleação dos profissionais terapeutas – é um convite provocativo para pensar “fora da casinha”, “fora da curva” – “andorinha sozinha não faz verão”.
Trata-se de criar oportunidade para maior aproximação, melhor conhecimento recíproco – agregando assim valores comuns às questões humanas de forma profissional, profunda e significativa.
Investir em um diálogo construtivo com a realidade do mundo contemporâneo, atualizando e repensando as descobertas, desde de nós mesmos, em comunhão e convergência, será um caminho rico de oportunidades instigantes e inquietantes.
Em resumo, acreditamos que resgatar, aprimorar e elevar a identidade dos profissionais terapeutas e a manutenção do bem-estar dos mesmos e daqueles que nos procuram através das terapias, será uma forma enriquecedora para agregar valores à individualidade e à coletividade. É jogo do ganha-ganha.
Que possamos resgatar com inteligente estratégia e organização, não só a parceria e profissionalismo, mas também – abrir um novo lugar aos terapeutas, – queremos oferecer “cuidado especial”, tratar da saúde dos profissionais, que no dia a dia, são instrumentos do bem-estar, aos mais necessitados – e assim enriquecer, de modo colaborativo e transformador, nossa missão.
“Quem cuida, merece “ter cuidados”!
Floripa – 26.07.23
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
“A Era da Complexidade: Abordagens para uma Nova Ordem” – Autor: Waldemar De Gregori
Neste livro, o autor explora o conceito de complexidade e como ele se aplica ao mundo das terapias holísticas. Ele oferece uma análise abrangente do ambiente em que essas terapias operam e propõe abordagens para enfrentar os desafios do cenário atual.
“A Torre de Babel da Terapia Holística: Unindo Abordagens Divergentes” – Autor: Maria Helena Franco
Este livro examina os diferentes paradigmas e abordagens presentes no campo das terapias holísticas. A autora busca promover a compreensão e a cooperação entre os profissionais, abordando os conflitos e desafios que podem surgir.
“Fogo Amigo no Mercado Holístico: Como Construir Parcerias Sustentáveis” – Autor: Roberto Santos
Nesta obra, o autor explora os conflitos e a concorrência acirrada entre os profissionais do mercado holístico. Ele oferece estratégias práticas para construir parcerias sustentáveis e promover o crescimento mútuo em um ambiente competitivo.
“Integração Holística: Unindo Saberes para uma Abordagem Completa” – Autora: Ana Beatriz Silva
Este livro propõe uma visão integrada das diferentes terapias holísticas disponíveis, buscando oferecer uma compreensão abrangente e holística do ser humano e suas necessidades. A autora explora como os profissionais podem trabalhar em conjunto para fornecer tratamentos mais eficazes.
“O Poder da Comunicação na Terapia Holística” – Autor: João Carlos Mendes
Este livro enfoca a importância da comunicação eficaz entre os profissionais de terapias holísticas e como isso pode ajudar a superar mal-entendidos e conflitos. O autor oferece ferramentas e técnicas para melhorar a comunicação e promover um ambiente mais colaborativo.