É um paradoxo, pois enquanto a repressão é vista como restritiva, ela também é crucial para estruturar e direcionar o desejo humano. Essa dualidade torna-se evidente quando examinamos conceitos como “bem-estar”, “bem-viver” e “bem-do-eu”.
Repressão e Desejo (desejo recalcado)
Desde os primórdios da civilização, a repressão foi uma ferramenta necessária para manter a ordem e coesão social. Contudo, é no entrelaço com o desejo que se percebe a verdadeira complexidade do ser humano. Ao falar da repressão, inevitavelmente entramos no vasto campo da psicanalise, onde Freud introduz uma visão revolucionária da natureza humana.
A Repressão no Contexto Social e Político
A repressão manifesta-se nas diversas esferas da sociedade, desde o controle familiar até políticas públicas mais amplas. Observando o contexto brasileiro durante a pandemia, por exemplo, observa-se uma repressão, muitas vezes exacerbada, de direitos fundamentais. O que coloca em questão: até onde a repressão é necessária para o bem-estar coletivo e quando ela passa a ser uma violação dos direitos individuais?
A Repressão e a Estruturação do Desejo Humano
A “consciência moral”, ou “pauta comportamental”, como descrito, funciona como um regulador do comportamento humano. É um paradoxo, pois enquanto a repressão é vista como restritiva, ela também é crucial para estruturar e direcionar o desejo humano. Essa dualidade torna-se evidente quando examinamos conceitos como “bem-estar”, “bem-viver” e “bem-do-eu”.
O Desejo Recalcado e a Pulsão de Vida/Morte
A psicanalise, especialmente a teoriafreudiana, postula que os desejos humanos, quando reprimidos, não desaparecem, mas são recalcados. Estes desejos recalcados, sejam eles afetivos ou de outra natureza, constituem a “pulsão de vida/morte”, influenciando nossos comportamentos e emoções de maneiras muitas vezes não compreendidas. A superação desses desejos recalcados é uma jornada individual, moldada por circunstâncias socioculturais e experiências pessoais.
A Inerente Agressividade Humana
Conforme expresso por FRIEDL e VILHENA, a violência e a agressividade são inerentes à natureza humana. Desde a aurora da existência, o homem tem lutado contra as forças da natureza e, crucialmente, contra sua própria natureza violenta. Controlar essa agressividade foi, e continua sendo, fundamental para a sobrevivência e prosperidade da espécie humana.
Diálogo Terapêutico: Uma Janela para o Entendimento
Por fim, é vital reconhecer a repressão não apenas como uma barreira, mas também como uma possível aliada no entendimento do ser humano. Através do diálogo construtivo, e especialmente do diálogo terapêutico, podemos desvendar os meandros da repressão e do desejo, permitindo uma maior compreensão de nós mesmos e dos outros.
A dança entre repressão e desejo é intrínseca à condição humana. Ao tentarmos compreender sua interação, não apenas ganhamos insights sobre nossa natureza, mas também abrimos caminho para uma convivência mais harmoniosa e empática. Em uma era de rápidas mudanças e desafios crescentes, tal compreensão é mais crucial do que nunca.
A Subjetividade na Era Moderna (desejo recalcado)
No atual panorama, onde a subjetividade é muitas vezes marginalizada, é essencial explorar o intricado relacionamento entre repressão e desejo. Este artigo delinea as facetas desse relacionamento, destacando a complexidade dos conflitos interiores e a necessidade de uma reconstrução ética.
A Subjetividade Sob Ameaça
A progressão da civilização tem imposto desafios significativos à autenticidade da subjetividade. Grupos hegemônicos, ao determinarem o caminho “correto” para o bem-estar social, inadvertidamente colocam em risco o espaço para expressão individual, levando a uma forma de “suicídio coletivo” da experiência vivida.
Bem-Estar Social: Uma Ilusão Capitalista?
Hoje, o “bem-estar social” tornou-se uma ferramenta capitalista, muitas vezes promovida por uma minoria que beneficia desproporcionalmente em detrimento da maioria. Esta construção sociocultural cria um ambiente onde a repressão é mascarada sob o véu do progresso, levando a conflitos intrínsecos que a psicanalisebusca decifrar.
O Direito de Escolha e a Pauta Comportamental
A liberdade de escolher, seja uma causa ou uma identidade, é vital para a saúde mental e emocional. Quando essa liberdade é comprometida, surge sofrimento. A “pauta comportamental” e a “consciência moral” influenciam profundamente nossas decisões, sendo essenciais para compreender as ações e os sentimentos humanos.
Moral vs. Ética: Reconstruindo Conceitos
Enquanto a moral aborda as regras impostas pelo grupo social, a ética é a reflexão sobre essas regras. Na busca por um “bem-viver”, é essencial optar por uma ética que encoraje novos entendimentos e aprofunde o significado de coexistir. Em uma sociedade repleta de preconceitos e ódio, essa revisão ética é mais necessária do que nunca.
Psicanálise: Do Inconsciente à Consciência Moral
Com Freud, entende-se que o inconsciente desempenha um papel vital em nossas decisões, sugerindo que nossos desejos e pulsões são muitas vezes ocultos da consciência moral. No entanto, em vez de buscar o “bem-viver”, a psicanaliseexplora os desejos e atos inconscientes, destacando a necessidade de sociedades mais compreensivas que valorizem a subjetividade.
A era moderna, com seus desafios e dilemas, exige uma profunda introspecção sobre a natureza da repressão, desejo e ética. Para navegar nesses tempos tumultuados, é crucial redefinir e recontextualizar nossas concepções de subjetividade e bem-estar, abrindo caminho para sociedades mais inclusivas e compreensivas.
A Busca da Fruição da Vida (desejo recalcado)
A natureza humana é uma tapeçaria intrincada de desejos, emoções e traumas, moldada por histórias pessoais e coletivas. Este artigo explora a relação entre repressão e desejo na trajetória humana, em direção à “fruição da vida”.
Prazer versus Felicidade Imaginada
Embora muitos busquem incessantemente o prazer, é crucial distinguir essa busca do anseio pela “felicidade imaginada”. Enquanto o prazer está ligado a estímulos e satisfações momentâneas, a ideia de felicidade imaginada é uma construção mais profunda, muitas vezes idealizada e inalcançável.
O Inconsciente e o Fluxo Vital
Nossas ações são, muitas vezes, direcionadas por motivações inconscientes. Segundo Freud, o ser humano é impulsionado pelo desejo de prazer e pela aversão ao desprazer, buscando um propósito ou significado para a vida. Este fluxo vital molda a trajetória de cada indivíduo e os contornos da humanidade.
Freud, Dor e Catarse
Para Freud, a compreensão da humanidade não é possível sem reconhecer a dor e a angústia. O divã, na psicanalise, torna-se um refúgio terapêutico, proporcionando um espaço para a catarse e o acolhimento do sofrimento. Através dessa abordagem, os indivíduos podem começar a compreender e processar suas dores mais profundas.
Religiosidade e Sofrimento (desejo recalcado)
A narrativa religiosa, especialmente no cristianismo, vê o sofrimento como intrínseco à experiência humana. Desde a noção do “pecado original” até a imagem do Cristo crucificado, o sofrimento é visto não apenas como um fardo, mas como um caminho para a transcendência. Ao enfrentar conscientemente a dor, o crente pode alcançar um estado elevado de espiritualidade e compreensão.
Repressão, Desejo e Cultura
A teoriafreudiana propõe que, após a internalização do “princípio da realidade”, os desejos humanos são frequentemente negociados e adiados, sinalizando uma transição da impulsividade instintiva para a regulação cultural. No entanto, Lacan argumenta que ceder ao desejo não necessariamente leva à felicidade. A busca de cada indivíduo pela felicidade pode, portanto, ser uma jornada eterna e inexplorada.
O legado de Freud e a compreensão psicanalítica da repressão e do desejo nos oferecem insights valiosos sobre a natureza humana. Somos seres em constante evolução, moldados por nossas histórias e conflitos internos. A compreensão e aceitação desses aspectos, em sua complexidade, são cruciais para avançar em direção a uma vida mais plena e significativa.
CONCLUSÃO (desejo recalcado)
Embora muitos busquem incessantemente o prazer, é crucial distinguir essa busca do anseio pela “felicidade imaginada”. Enquanto o prazer está ligado a estímulos e satisfações momentâneas, a ideia de felicidade imaginada é uma construção mais profunda, muitas vezes idealizada e inalcançável.
Floripa, 19.08.23
REFERÊNCIAS BÁSICAS
- “O Mal-estar na Civilização” de Sigmund Freud
Resenha: Neste trabalho seminal, Freud explora as tensões entre os desejos individuais e as demandas da sociedade civilizada. O autor argumenta que a cultura exige repressão dos impulsos básicos do ser humano, levando ao mal-estar persistente. O livro é uma profunda reflexão sobre os custos psicológicos da vida em sociedade. - “O Teatro da Repressão” de Jurandir Freire Costa
Resenha: Jurandir Freire Costa analisa, sob uma perspectiva psicanalítica e sociológica, como certas repressões, especialmente aquelas relacionadas à sexualidade, são construídas e mantidas na sociedade brasileira. Ao explorar o impacto do catolicismo, do machismo e de outras forças culturais, Costa apresenta um panorama da repressão no Brasil e suas consequências para a subjetividade dos indivíduos. - “O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise” de Jacques Lacan
Resenha: Nesta obra, Lacan aborda quatro conceitos centrais da psicanalise: o inconsciente, a repetição, o desejo e a transferência. O livro é crucial para entender a perspectiva lacaniana do desejo e sua distinção em relação à visãofreudiana. A complexidade e profundidade do pensamento de Lacan são apresentadas de forma vívida e provocativa. - “História da Sexualidade I: A Vontade de Saber” de Michel Foucault
Resenha: Foucault examina a evolução do conceito de sexualidade na cultura ocidental, argumentando que a sexualidade tornou-se uma forma de poder e controle social. Ao invés de ser reprimida, a sexualidade foi, na verdade, colocada em discurso, tornando-se uma forma de controle e definição da identidade individual. Esta obra desafia muitas noções tradicionais de repressão e desejo. - “Ética e Psicanálise: Freud e Lacan” de Durval Marcondes
Resenha: Durval Marcondes explora a relação entre ética e psicanalise, centrando-se nas teorias de Freud e Lacan. Ele discute a ideia de que a psicanalise, ao invés de estabelecer uma moral tradicional, propõe uma ética baseada no desejo e na verdade do sujeito. O livro serve como um ponto de partida para entender as complexas interseções entre moral, ética e desejo na psicanalise.