AGRESSIVIDADE HUMANA

259-FAMÍLIA

Prepare-se… neste texto apresento  algumas linhas reflexivas  a respeito   da contribuição da(s) psicoterapia(s)   à “desconstrução e reconstrução” da experiência afetiva,  vinculante  de sentido à família.

A intenção é caracterizar a problemática, aprofundar a reflexão e  transformar as atitudes defensivas em afirmativas, por meio do diálogo construtivo.

FAMÍLIA
FAMÍLIA

 

A reconstrução do sentido

Curiosamente, quando se fala em psicoterapia, o horizonte que se descortina, apresenta  cenário contagiante…sedução  à imaginação.

Aqueles que se deixam sensibilizar  pela diversidade  das ajudas colaborativas, sistematizadas  em  abordagens teóricas  e possíveis convites às  conexões psicoterapêuticas, dão-se conta.

Neste caso específico, o que se observará da janela do “olhar psicoterapêutico” será a   família. 

De  início, é de bom alvitre caracterizar e socializar  a bandeira  cultural pioneira, à modafreudiana, que  auxilia na compreensão desta  temática.  

Quando se fala em  psicanalise, no contexto das psicoterapias, fala-se de profissionais  formados em diversas áreas   que se identificam e se  apresentam com   formação, especialização e prática em psicanalise. 

A  psicoterapia

(…) na sua amplitude,  compreende  tanto profissionais formados em psicologia, aptos à  prática, bem como, outros profissionais com formação específica e comprovada  em psicoterapia, por meio de  cursos de especialização ou em instituições de ensino livre,  reconhecidas no mercado pela competência  e proficiência  na formação de psicoterapeutas, distantes de quaisquer tentações corporativistas.  

Finalmente, a “psicanalise” se volta para a terapia que parte do inconsciente, em busca do autoconhecimento e visa a reconstrução  da personalidade, em trabalho árduo, conjunto e consentido.

Por outro lado, as diversas  psicoterapias consideram outros  objetivos,  também focados no bem-estar da saúde físico-mental, conforme suas especificidades, a partir do consciente/paciente.

Tem-se então, a psicanalise, referenciada desde  Freud/Lacan,  divulgada, aprofundada e enriquecida pelos   seguidores até aos dias de hoje. 

Busca-se, assim,  a origem dos problemas.

O psicoterapeuta

(…) cuida da saúde psicológica dos pacientes, sempre numa atitude colaborativa.  

Psicoterapeuta e pacientes,  por meio da metodologia da livre associação  de palavras,  comprometem-se na busca do melhor caminho.

  Por uma questão de princípio da psicanalise, deve-se garantir o respeito  – à subjetividade protagonista (auto diálogo) –  do analisado, pedra angular desta psicoterapia. 

A ressignificação do sentido existencial do “eu-nós”  por meio da recuperação  dos laços vinculantes, parte da constatação de  que a própria natureza da relação  familiar, “experiência comunitária” em sua essência,   é parte constitutiva da construção  identitária dos sujeitos na relação. Logo,  precisa ser retroalimentada.

 Amar o outro

(…) não é tomar posse/usar  de sua existência, transformá-lo à sua imagem e semelhança, empobrecê-lo para que se adapte às suas necessidades e circunstâncias. Amar o outro é,  simplesmente,  fazer o outro existir – estar “sempre à disposição” – acolhimento do sentir. 

Se a relação for efetiva e  intensamente saudável, longe de relações hierárquicas e de poder,   ambos se beneficiam da experiência amorosa perspectivando crescimento  à própria  existência e  à existência do outro –  isto é,  pertencimento e identidade na família. 

 Este ponto de partida é significativo neste contexto revitalizante, de amar o outro  em  situações de equilíbrio e desequilíbrio,  de alegria e tristeza, de  “convicções compartilhadas” na relação plural.

A maneira de ser de cada um constrói a maneira de ser do “eu-nós-família”.

A regra básica é agregar   valores, sempre que  o contexto permitir,     à organização e à  estruturação da personalidade(1), de modo recíproco, amorosamente compartilhado.

 Considerar  em  seguida, o modo sincronizante,  dos valores morais, econômicos, religiosos e culturais, que por sua vez, farão parte de uma possível  dinâmica de desconstrução/reconstrução, de antemão, se desnorteados. 

A sociologia

(…) tem sinalizado problemas  em diversas direções e  proporções. 

Em relação  àquela família que experimenta a possível perda da identidade, muitas vezes, chegando-se   ao fundo do poço, é preciso estar atento. 

Seus membros serão acometidos  por uma predisposição involuntária de impotência, correndo o risco de serem conduzidos a uma depressão  aguda (angústia profunda). 

Zimerman (1993/2000)  identifica problemas na comunicação, na sexualidade, problemas com filhos, deterioração gradativa do casamento em função da emancipação da mulher e nem sempre entendido pelo cônjuge.  Soma-se a isto, os conflitos relacionais, a violência doméstica  e diversos tipos de relações perversas (Eiguer, A. 1988).

Segundo Sally  Box e outras, na  obra – Psicoterapia com famílias – ”precisamos ver a família como uma unidade social e emocional”.  

Quando esta unidade se fragmenta e se manifesta em comportamentos de estranhamento à convivência, à rotina diária, aos rituais da família,  algo precisa ser feito e pensado diferentemente,  de modo a reconstruir a relação perdida, em sendo interesse, compromisso e propósito dos membros participantes. 

É preciso se permitir

 (…) “reencontrar-se” para resgatar sentimentos, emoções e manifestações de afeto, perdidos pelo desgaste no tempo, provocados pela correria do dia a dia e pelo tempo maior dedicado, muitas vezes, ao   trabalho e ao  lazer. 

Com certeza,     as sobras do tempo sequer  alimentam as relações afetivas e necessárias à construção da  boa convivência e do bom clima em família, em meio aos membros. 

O importante é observar que, nos casos, principalmente de ruídos na comunicação, este processo, dinâmico-vincular, se deteriora paulatinamente e portanto,  precisa ser repensado, urgentemente, desde  as vivências psíquicas, notadamente   a partir  da experiência vivenciada junto  aos pais.

 Para se compreender o presente, é necessário retroceder ao passado, de preferência ao passado recente, à vida de família, na origem.

 A história de família pode apresentar cenas de sofrimento e de alegria, informações importantes e  significativas e uma vez alojadas no  inconsciente, farão parte do futuro comportamento, adequado e/ou inadequado. 

Tudo aquilo que não foi  bem elaborado (passado), retornará na experiência da nova família. Cada membro ocupará um lugar e desempenhará um papel, algumas vezes, com retrovisor no passado.

Segundo Gomes

“Não podemos esquecer que o mito familiar, na medida em que inclui convicções partilhadas e “aceitas a priori”, apesar de seu caráter de irrealidade, terá uma dimensão de sagrado ou tabu, não sendo questionadas para manter a homeostase (equilíbrio)  do grupo, evitando que este se deteriore ou corra riscos de destruição”.

A família, em tese, deveria se caracterizar  a partir do “sistema equilibrado”, segundo sua “nova cultura de valores” construída  sinergicamente na socialização da  experiência subjetiva, tal como –   maturidade afetiva, troca de interesses, relações saudáveis, etc.

Na contra mão dos teóricos que defendem o equilíbrio da família em regras – o que alimenta a unidade e comunhão, mais que regras, será a maturidade das relações que se manifestam na solidificação revitalizante  de concretos   laços vinculantes. 

 “O processo psicoterapêutico  facilita as conexões por meio da livre associação de palavras, desvela a potência do passado e constrói  pontes  na potencialização do presente, rumo às novas possibilidades de vida –  essa travessia muda completamente a vida” (FPC).

CONCLUSÃO

Finalmente,  a psicanalise será exitosa se exercitar e transformar em hábito a desconstrução das atitudes defensivas. 

A reconstrução de  experiências afetivas/efetivas,  afirmativas, por meio do diálogo, “terapêutico-vinculante”, expressará o grau de maturidade a ser  alcançado pela família.

Somente a abertura ao(s) outro(s) gera convergência, apequena a divergência e transforma a personalidade.

João Barros

FLORIPA, 16.08.23

REFERÊNCIAS BÁSICAS

  1. “A família em desordem” de Elisabeth Roudinesco
    • Resenha: Roudinesco discute a transformação da família ao longo dos tempos, especialmente frente às questões de gênero, sexualidade e patriarcado. O livro aborda a família desde a sua origem até os modelos contemporâneos, evidenciando as crises e mutações. A obra é uma reflexão sobre a história da família e seu papel no desenvolvimento psicológico dos indivíduos.
  2. “Família: Redes, Laços e Políticas Públicas” de Ana Lúcia Goulart de Faria (Org.)
    • Resenha: Este livro traz um aprofundamento sobre as configurações familiares contemporâneas, enfocando a complexidade das relações, as redes sociais de apoio e a importância das políticas públicas voltadas à família. A autora aborda como os vínculos familiares são influenciados e transformados pelas mudanças socioculturais.
  3. “Comunicação e família: Novas configurações, papéis e interações” de Lívia Marques Ferrari de Figueiredo
    • Resenha: A autora discute a comunicação familiar no cenário contemporâneo, considerando as novas tecnologias e formas de relacionamento. Aborda as mudanças na dinâmica familiar e como isso influencia na comunicação entre seus membros. O livro destaca a importância do diálogo claro e assertivo para a construção de relações saudáveis.
  4. “A família contemporânea em debate” de Jurandir Freire Costa e Sérgio Telles (Orgs.)
    • Resenha: Reunindo ensaios de diversos autores, esta obra busca compreender as mudanças nas estruturas e nas dinâmicas familiares da contemporaneidade. Abordando temas como homoparentalidade, divórcio e novas configurações familiares, o livro é um panorama riquíssimo sobre a família no cenário atual.
  5. “A Transmissão Psíquica Entre Gerações” de Alain de Mijolla
    • Resenha: Mijolla explora a transmissão psíquica entre as gerações, discutindo como traumas, conflitos e vivências dos pais podem influenciar nos comportamentos e nas emoções dos filhos. A obra aprofunda-se no conceito de transgeracionalidade, mostrando como a história familiar pode moldar a personalidade e os relacionamentos futuros dos membros da família.

Quais os maiores desafios à família?

Zimerman (1993/2000)  identifica problemas na comunicação, na sexualidade, problemas com filhos, deterioração gradativa do casamento em função da emancipação da mulher e nem sempre entendido pelo cônjuge.  Soma-se a isto, os conflitos relacionais, a violência doméstica  e diversos tipos de relações perversas (Eiguer, A. 1988).

O que é o mito familiar?

“Não podemos esquecer que o mito familiar, na medida em que inclui convicções partilhadas e “aceitas a priori”, apesar de seu caráter de irrealidade, terá uma dimensão de sagrado ou tabu, não sendo questionadas para manter a homeostase (equilíbrio)  do grupo, evitando que este se deteriore ou corra riscos de destruição”.

Qual é a contribuição do processo terapêutico?

 “O processo psicoterapêutico  facilita as conexões por meio da livre associação de palavras, desvela a potência do passado e constrói  pontes  na potencialização do presente, rumo às novas possibilidades de vida –  essa travessia muda completamente a vida” (FPC).

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João Barros - empresário/escritor - professor com formação em filosofia/pedagogia, teologia/psicanálise (...) atualmente, diretor pedagógico na empresa SELO BE IBRATH - com foco na supervisão e qualificação dos produtos pedagógicos e cursos livres em saúde, qualidade de vida e bem-estar. Quanto às crenças e valores, vale a máxima: o caráter do profissional em saúde - isto é - dos psicanalistas/terapeutas - determina sua missão. "Mens sana in corpore sano".