AGRESSIVIDADE HUMANA

254- PEDAGOGIA DA PSICANÁLISE

Pedagogia da psicanalise, a vida é curta demais para contentar-se com palavras.

“O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui? Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato 

Não me importo muito para onde, retrucou Alice. Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato. Contanto que dê em algum lugar, Alice completou.

Oh, você pode ter certeza que vai chegar se você caminhar bastante, disse o Gato.” (Alice no país das maravilhas Lewis Carroll)

PEDAGOGIA DA PSICANÁLISE
PEDAGOGIA DA PSICANÁLISE

Pedagogia da psicanalise – O desejo de chegar em algum lugar, cria no ser humano uma dinâmica  instigante  de busca pela  propulsão da vida, ainda que a ansiedade,  cobre  de forma incompreensível, das escolhas  e  da vontade de  bem-viver, decisões assertivas e seguras.   Na dúvida, cobrará das decisões investidas de suposições, antecipadas e imaturas.  

INTRODUÇÃO (pedagogia da psicanalise)

É  na construção da  história libidinal do sujeito  que  se pode  encontrar os reflexos  marcantes  deste registro existencial, do  lugar do afeto – “âncora do sentido” (Vieira). As motivações, como vento favorável,   conduzem  a vida ao rumo do afeto,  pelo caminho do coração, da  razão e do que se pode ou não fazer, desenhando os traços da personalidade na pintura, em cada subjetividade. 

  Sua  origem encontra-se no  “Id” , verdadeira realidade psíquica (Freud) e se expressa  dentro de sistemas responsáveis pelas “ações psicológicas”, inconscientes, conduzindo as sensações, ao bem-estar/mal-estar, a depender, de para  onde se desejar ir.

Pedagogicamente, é preciso assegurar  alguns passos para se compreender melhor, a passagem da primeira à segunda tópica, sistemas que alimentam a vida psíquica, trabalhando integrados.   Suas implicações na prática,  fazem a vida acontecer.

Características  marcantes se fazem presentes   na personalidade quando se experimenta com  ousadia, a provocação de se “abrir mão” da ansiedade, de se abrir a  mente – aos questionamentos radicais, quanto aos  caminhos, já  percorridos –  com o desejo  de   revisitá-los, na tentativa   de se  atirar em novas  direções, desconhecidas e  promissoras.

 De início, será   adrenalina pura, por uma aventura que transpire  e conspire contra a ansiedade e a favor da    proximidade e intimidade emancipatória, autodeterminante  e realizadora da subjetividade. 

Para se entender melhor de onde e para aonde se vai, vale a pena,   revisitar  o Id, como lugar da fonte energética,   pulsional/vital, para se estimar  melhor,  os interesses do   “Isso”  que  se manifesta, muitas vezes, na “turbulência”   da consciência  e que  passa      despercebido pela pressa de logo chegar. 

Apresentar a  estruturação (pedagogia da psicanalise)

    (…) do aparelho psíquico àqueles recém-iniciados  no campo da psicanalisee aos praticantes,  é  atitude pedagógica quando seu “modus operandi”    prioriza, de modo didático, uma facilitação que venha à  compreensão e à   organização   dos conceitos  envolvidos, uma vez que Freud, progressivamente, vai mudando, alargando os conceitos e acrescentando novas informações, à medida de suas descobertas. 

 Somente então, se permitir, provocar-se, na liberdade da vontade,  o  pensar a reconstrução de outros   caminhos, com a intenção de “sair daqui”, deste lugar – do senso comum, deste contexto, perspectivado pela  ansiedade. 

 Em lugar de explicar a vida, simplesmente, quando se tem desafios,  problemas/questionamentos –  a partir do que é dado à percepção, ‘todos os mortais assim o fazem” –  porquê não, se dar ao exercício de  explicar a partir do  lugar das pulsões – lembranças/repressões ?

“Qual é o caminho a seguir para sair daqui?

Bem, o bom juízo pede, siga  o  imperativo  –  compreende o Id, “ à semelhança do fruto proibido”,  que alimenta a vida psíquica e somente então, reflita os possíveis caminhos,  o que deixar e  para onde se quer ir. 

 Vale a pena, contextualizar o ponto de partida, antes mesmo de se falar  do Id/energia psíquica  e do lugar da ansiedade,  razão interessada desta narrativa.

Quando  se fala em energia psíquica, fala-se igualmente, do ponto de vista  da psicanalise, historicamente registrada pelas pesquisas e descobertas  de Sigmund Freud, final do século XIX e início do século XX.

  À época, onde tudo começa, instigado pelo desafio da histeria   à medicina  e aos pesquisadores envolvidos na descoberta de soluções à doença da mente, tão antiga e até então, ainda carregada de superstições.

Freud  experiencia a histeria, passa pelas  – neuroses,  psicoses, perversões – trabalhando e pesquisando   por meio dos métodos da  hipnose, catarse, até chegar à associação livre, para encontrar a cura  pela palavra, “tornar consciente o inconsciente” (Baratto), aos  doentes mentais.  

Partindo da histeria/angústia, Freud chega  a uma metodologia para se investigar o inconsciente, fruto de sua  experiência nos tratamentos, onde deduz, o lugar da solução para os recalques  da psique. 

Com a publicação da obra “A Interpretação dos Sonhos” (1900)

Freud apresenta   a ideia do  modelo do aparelho psíquico, identificando três partes   significativas (órgãos), de acordo com o grau de acesso à consciência, que fundamentam o sistema mental, cujas partes estão  relacionadas à consciência, formando sistemas.

  •  Inconsciente (Ics) – arquivo sensorial de conteúdos, representante das pulsões, que se manifesta de modo distorcido. Vida mental, presente em  sua maioria no inconsciente.  
  •  Pré-consciente (Pcs) – arquivo de palavras, lugar da busca pela memória;
  • Consciente (Cs) – aqui/agora da vida mental, acesso direto. Dotado de energia móvel. Responsável pela comunicação interior/exterior.  

 Neste  período de pesquisas,  identifica a existência do complexo universal de Édipo, que será uma chave de interpretação  e referência para  a teoria da personalidade.

Em “Três ensaios de sexualidade” (1905) (pedagogia da psicanalise)

Freud apresenta o processo de desenvolvimento psicossexual, a descoberta da sexualidade na infância.

A segunda tópica    da estrutura mental da personalidade, aparece em  “O Ego e o Id” (1923).  Surge diante do que é possível  observar do funcionamento da mente em situação de conflito:

  •  Id/Isso, princípio do prazer/desejo instintivo, exige gratificação – parte pulsão e parte conteúdos vividos/recalcados. Ausência do sujeito coerente.
  • Ego, princípio da realidade, seu impulso e energia vêm do id. Autonomia relativa. Dotado de mecanismos de defesa frente ao afeto desagradável. Operações defensivas, grande parte inconscientes. Responsável vida prática/self. Coordena funções e impulsos internos.
  • Superego, segunda divisão dentro do próprio Ego, autocensura, mediador de conflitos auto-punitivos, forças anti-instintivas, ideais de padrão. Gera o sentimento de culpa dentro do Ego.

 É justamente deste ponto, que a narrativa vai  caracterizar a dinamicidade  do Id na explicação dos instintos/pulsões, sublimados,   permitindo o alargamento  e a  compreensão da vida psíquica, segundo a visão de Freud.

É o Id, à semelhança das ousadas “caravelas”, que “soprando” pelos ventos dos instintos/pulsões, conduzirá a vida, confiante naqueles que melhor  disporem a direção das velas, em direção ao porto seguro. 

Tem-se aqui  a questão básica, o ponto de partida – de onde vêm os instintos?

Os instintos têm sua explicação a partir do Id (lugar das representações inconscientes e  inatas, memórias)  onde se encontra, disposto em dois polos pulsionais, o sexual e o agressivo de acordo com a obra, “Dualidade dos Instintos” (Freud, 1920),

A vida psíquica, também se tornará agitada, igualmente benéfica,  nesta “pororoca”, no “encontro das águas do mar com as do rio”, isto é, do encontro da pulsão sexual (libido/instinto de vida)   com a pulsão  agressiva (instinto de morte).

Importante  reafirmar  que a teoria psicanalítica  define o campo do psiquismo a partir do Ics e não do Cs (menor parte da mente humana). 

Conhecido até então, o Cs inclui tudo que  é  do Ics, inclusive as experiências presentes no Pcs  e as experiências recalcadas, porque o Cs, também tem  parte Ics. 

Parece complicado, mas é preciso paciência para  destrinchar, parte por parte.

Bom lembrar, Freud demonstra que  não se pode definir o homem de modo isolado – “O sujeito não é senhor de si”. A psicanalisesinaliza a existência da dualidade do eu  dentro do mesmo sujeito.  

Enquanto  muitos à época  compreendiam o sujeito como uma coisa só, indivíduo, indivisível,   a psicanalisevem para  desconstruir o conceito  – “pensa que é dono de si mesmo e ao mesmo tempo não o é –  parte do seu eu  se faz presente no Ics,  no Pcs e Cs. 

Movido pelos desejos mais íntimos, carregados de memórias, imposições e representações –  busca descarregar  sua libido, em novas sensações, precisa viver.

Entre a razão  e o   afeto (pedagogia da psicanalise)

(…) existe uma grande diferença. Escolher  um  deles para definir a vida, é assumir as consequências do impacto que  será levado aos   vários campos, na vivência  por  uma filosofia de vida. 

Freud, ao aprofundar a ideia do aparelho psíquico, dará uma atenção especial ao Ics, no entanto, não  descartará o Cs por enxergar nele a conexão do universo interior com o exterior (Pc-Cs) – porta da entrada da percepção. 

O Cs tem o seu papel de importância no diálogo com Ics e Pcs. Por meio da percepção existe a comunicação do interior com o mundo exterior. A realidade externa, apreendida pela linguagem simbólica é introjetada, em forma de memória. Será  absorvida, via percepção e fará parte do sistema psíquico.

Freud identificará   no sistema Percepção/Consciência (Pc-Cs) uma tarefa para o Ego. Irá sobreviver se criar sempre novos fatos significativos para aí colocar a sua energia.

De volta ao Ics, parte mais importante do aparelho psíquico, breve consideração para se aproximar  do conceito de vida psíquica na tentativa de sinalizar o lugar da ansiedade na vida do ser, sedento pela vida, carregado de  impulsos e sentimentos.  

 Segundo Freud – a maior parte de nossa vida psíquica se deve ao Ics. Com certeza, a teoria psicanalítica pode, de modo afirmativo, conceituar a vida psíquica, na sua totalidade. 

Para LAPLANCHE & PONTALIS (pedagogia da psicanalise)

Se fosse preciso concentrar numa palavra a descobertafreudiana, seria incontestavelmente na palavra inconsciente, pois em psicanaliseé a estrutura psíquica que compreende os impulsos e sentimentos dos quais o indivíduo não tem consciência; é a pedra do fecho de toda teoria da psicanalise, em alemão é o não sabido” .

O Ics passa por uma expansão em seu conceito, mantendo-se em permanente evolução. Abordado  na primeira tópica como associado ao recalque para se apresentar na segunda tópica – Id, estruturado, teoricamente preparado para assegurar os  processos psíquicos.  Dotado de  leis próprias, com destaque ao processo primário, imediatista, ligado ao organismo. Enquanto Pcs e Cs, estão caracterizados pelo processo secundário, sabem adiar necessidades,  ligados à experiência de vida. Trata-se de mera conotação temporal e biológica. 

Assim, é fácil a  compreensão de suas características essenciais – os conteúdos são representantes das pulsões, eles  apresentam mecanismos próprios  no sentido de expressão/manifestação, tais como os fenômenos de condensação e deslocamento.

Estes conteúdos, carregados de energia, retornam, isto é, escapam em direção  à consciência e à ação por meio das “formações de compromisso”, chamados de sintomas que apontam para uma realidade fora da consciência. 

Trata-se do conflito censurado, colocado no esquecimento e que vai para o corpo  na forma de sintoma. Simultaneamente, realiza o desejo do inconsciente  e das exigências da defesa. 

Freud  diz que a  vida psíquica é 

  “… cheia de pensamentos eficientes embora inconscientes, e que era destes que emanavam os sintomas” (Mod.4).

As pulsões sexuais/agressivas – pulsões de vida e de morte  se encontram nas representações inconscientes. As pulsões  interpelam constantemente em direção a alguma coisa, em busca de satisfação.  

 Ao se abrir as portas   do Id, ao Ego e ao Superego, evidentemente com ajuda de um profissional, psicanalista competente, pode-se, assim,  achegar à ansiedade, à insatisfação pulsional, a  inquietude  que “nos habita” – no horizonte da subjetividade de nosso tempo, tempo das conexões. 

CONCLUSÃO (pedagogia da psicanalise)

Você pode ter certeza que vai chegar, se caminhar bastante.

Daqui em diante, é com você. 

“ A vida é curta demais para contentar-se com palavras.

 É difícil demais, porém, para dispensá-las. (Comte-Sponville, A.)

João Barros

FLORIPA, 15.08.23

Bibliografia básica (s)

  1. “O Ego e o Id” – Sigmund Freud – Resenha: Em “O Ego e o Id”, Freud explora a relação entre as partes conscientes e inconscientes da mente. O livro apresenta a proposta das três instâncias da psique: o Id (reservatório de impulsos e desejos inconscientes), o Ego (o mediador entre o Id e o mundo externo) e o Superego (a parte moral e crítica da mente). Freud detalha como essas entidades interagem e conduzem o comportamento humano.
  2. “A História da Sexualidade” – Michel Foucault – Resenha: Michel Foucault investiga a “invenção” da sexualidade na sociedade ocidental e como ela se tornou uma chave para a compreensão da identidade individual. Ao invés de tratar a sexualidade como um aspecto natural da existência humana, Foucault examina como ela foi construída historicamente, influenciando a formação da subjetividade.
  3. “O Corpo Fala: A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não Verbal” – Pierre Weil e Roland Tompakow – Resenha: A obra investiga como nossos corpos comunicam sem palavras, expressando emoções, desejos e afetos. Os autores examinam a linguagem corporal em várias situações, oferecendo insights sobre como o corpo revela o que muitas vezes permanece oculto em nossa psique.
  4. “Ansiedade: Como Enfrentar o Mal do Século” – Augusto Cury – Resenha: Em sua abordagem sobre a ansiedade, Cury discute os desafios contemporâneos que exacerbam os estados de ansiedade. Ele descreve técnicas e estratégias para enfrentar e gerenciar a ansiedade, propondo uma reflexão sobre os padrões de pensamento e comportamento que contribuem para essa condição.
  5. “A Descoberta do Inconsciente: História e Evolução da Psicanálise” – Henri Ellenberger – Resenha: Este livro oferece um panorama histórico da evolução da psicanalisedesde suas raízes na medicina e na hipnose até o desenvolvimento da teoriafreudiana. Ellenberger examina as influências culturais e individuais que moldaram a psicanalisee destaca os principais pensadores e movimentos do campo.

O QUE É O LUGAR DO AFETO?

É  na construção da  história libidinal do sujeito  que  se pode  encontrar os reflexos  marcantes  deste registro existencial, do  lugar do afeto – “âncora do sentido” (Vieira). As motivações, como vento favorável,   conduzem  a vida ao rumo do afeto,  pelo caminho do coração, da  razão e do que se pode ou não fazer, desenhando os traços da personalidade na pintura, em cada subjetividade. 

O QUE FOI A DESCOBERTA FREUDIANA?

Se fosse preciso concentrar numa palavra a descobertafreudiana, seria incontestavelmente na palavra inconsciente, pois em psicanaliseé a estrutura psíquica que compreende os impulsos e sentimentos dos quais o indivíduo não tem consciência; é a pedra do fecho de toda teoria da psicanalise, em alemão é o não sabido” .
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João Barros - empresário/escritor - professor com formação em filosofia/pedagogia, teologia/psicanálise (...) atualmente, diretor pedagógico na empresa SELO BE IBRATH - com foco na supervisão e qualificação dos produtos pedagógicos e cursos livres em saúde, qualidade de vida e bem-estar. Quanto às crenças e valores, vale a máxima: o caráter do profissional em saúde - isto é - dos psicanalistas/terapeutas - determina sua missão. "Mens sana in corpore sano".